quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Perdição





Ela olhou nos seus olhos
e soube-se perdida.
Lembrou palavras soltas,
cascatas sombreadas de desejo.
Fermentos de loucura incipiente roubaram-lhe a razão.
Cada letra lançou âncora, parasitou-a.
Deixou-se devorar e perdeu-se nos olhos.
Embrulhou-lhe os defeitos num novelo,
pintou como obra de arte a simples tela
e olhando-o nos olhos, sentiu-lhe os lábios mornos e o corpo quente.
O mar era um abismo de prazer
e os verdes e vermelhos golpeavam
fortes como frutos trincados.
Tentou não aceitar a perdição.
Ser mais forte, não ser igual a si.
Tivesse percebido e fugiria,
saltaria barricadas
verteria o seu sangue em escarlate manto
tingiria de negro a paixão.
Mas essa loucura dentro dela não tem travões,
não tem pregos que a prendam num caixão.

Corre desenfreada, cerra fileiras, desafia.

Mas...
Quando ela o sente,
já os cavalos galopam planície fora
rasgam telas manchadas de amarelo
ferem a música com rajadas de vento.
As mãos prendem e entrelaçam
e a voz canta-lhe ao ouvido o lânguido torpor tornado encantamento,
ferro em brasa marcando-lhe o sentir.

Já tentou ver-lhe a alma e vencer.
Mas perde sempre,
algemada nuns olhos feitos de palavras.



©  Margarida Piloto Garcia -in NÓS POETAS EDITAMOS-vol II-2013







2 comentários:

Ana Paula disse...

É um poema fantástico, adorei!
Obrigada pela visita, fui sincera como sempre sou e desculpa-me por ser assim, quando te disse que as letras só atrapalham...
Beijo

Anónimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado