domingo, 25 de janeiro de 2009

Cântico de sereia





Se as frases são de encantos e magias,
não deixes de as dizer.
Conta-me a história dos murmúrios sussurrados,
vertidos no orvalho matinal,
lambidos na gota de suor.
O sal que me perfuma
traz as gaivotas até à minha pele.
Tanta salmoura é mar, é lágrima, é sémen de uma nova vida.
Abro-me em flor.
Carnuda.
Prenhe de desejo.
Sei ser um corpo ao vento
fustigada na ciclópica tempestade.
Não vergo mais.
Junco flexível.
Alma elástica em torvelinho.
Trauma pré-concebido.

E a tua voz é quente e abrasadora!
Bálsamo refrescante na minha alma,
ácido corrosivo no meu eu.
Dissolvo-me na contradição.
Mas essas frases inundantes,
deixam-me num porto á tua espera,
figurinha recortada em mítico horizonte.
Persigo sonhos mas o sono brinca com as horas
fá-las escorregar numa fiada de pérolas,
nacaradas, lisas, frescas na minha pele sedenta.

Se desfraldo essa vela,
rumo a um mar profundo.
Levo comigo a faca serrilhada,
desenhando runas ancestrais dentro de mim.
Sinto-lhe a ponta fria e metálica
mas abro-lhe os braços.
Cedo á carícia perfurante,
cega por uma dor que me tortura.
Aventuro-me sabendo-me por certo sem regresso.
Mas as sereias trazem as frases encantadas
e se as quiser beber...
não posso recusar a embriaguez.

Provo o teu elixir,
ambrósia divinal.
E espero-te na noite sem memória.
Oferto-te o imaginário
sabendo que nos olhamos de diferentes cais.
Mas se as frases são de encantos e magias,
não deixes de as dizer.

Margarida Piloto Garcia




2 comentários:

Anónimo disse...

Como o vinho do Porto.Este poema é mais antigo mas duma intensidade soberba.que prazer me dás com a tua escrita
vmnc

Ana Paula disse...

Margarida, a tua poesia encanta, transcede no espaço flutua e ondula, simplesmente divinal,
um beijo

Ps: A verificação de palavras é uma seca. Não necessita, visto que todos os comentários passam pela sua aprovação, depois penso que limitam ou inibem as pessoas de comentar.(desculpe a franqueza)